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Bebês precisam frequentar escolas: um impulso para o desenvolvimento ou um dilema para a mãe moderna?


A decisão de matricular um bebê na escola pode gerar muitas dúvidas e até culpa nas mães modernas, que precisam equilibrar carreira, maternidade e desenvolvimento dos filhos. Mas será que a escola realmente impulsiona o crescimento do bebê ou pode ser um desafio precoce para ele? A resposta não é simples, pois estudos baseados em evidências existe prós e contras e deve ser discutido e muito bem pensando. É preciso se preparar para esta jornada, pois cada família tem sua necessidade.


Nos primeiros anos de vida, o cérebro do bebê está em um período de extrema plasticidade. Estudos em neurociência mostram que as conexões neurais se formam rapidamente em resposta a estímulos do ambiente. Quanto mais experiências ricas e variadas a criança vivencia, mais fortes se tornam essas conexões (Shonkoff & Phillips, 2000). No entanto, o cérebro do bebê não se desenvolve apenas por meio de estímulos intelectuais, mas principalmente, por meio do corpo e do movimento. A relação entre neurodesenvolvimento e psicomotricidade é essencial, pois é pelo corpo que a criança experimenta, percebe e se conecta com o mundo ao seu redor.


O desenvolvimento psicomotor na primeira infância não se resume a habilidades motoras isoladas, mas sim à construção de uma base neurológica e emocional que influenciará a aprendizagem futura. Segundo Gallahue e Ozmun (2013), os primeiros anos de vida são marcados pela evolução das habilidades motoras básicas, que ocorrem de forma integrada com o amadurecimento cognitivo e emocional. Movimentos como rolar, engatinhar, equilibrar-se e explorar diferentes superfícies ativam circuitos cerebrais responsáveis pela coordenação, orientação espacial e planejamento motor. Assim, o diálogo constante, a liberdade de movimento e a experimentação são essenciais para que a criança desenvolva sua autonomia corporal e a consciência de si mesma no espaço.


No contexto escolar, a qualidade da experiência psicomotora pode variar bastante. Se a escola oferece um ambiente rico em possibilidades de movimento, com liberdade para o bebê explorar diferentes posturas e deslocamentos, ela pode ser uma aliada no desenvolvimento global da criança. No entanto, se o espaço restringe a mobilidade, seja por questões estruturais ou pela adoção de uma rotina muito rígida, há o risco de limitar o desenvolvimento natural da coordenação motora e do equilíbrio postural. Além disso, o desenvolvimento psicomotor da criança está intimamente ligada qualidade do vínculo afetivo, especialmente com seus cuidadores primários. O toque, o olhar e a resposta imediata das figuras de apego são fundamentais para a percepção corporal e a sensação de segurança do bebê, para que sinta segurança para explorar o ambiente e interagir com o outro. Em um espaço onde o atendimento é compartilhado entre muitas crianças, essa troca pode ser menos individualizada, impactando não apenas o desenvolvimento motor, mas também a regulação emocional da criança.


É fundamental ter consciência de que o cérebro do bebê necessita muito mais de segurança emocional e de vínculos afetivos estáveis com os cuidadores primários, especificamente, a mãe, do que estar na creche/escola nos três primeiros anos. O estresse gerado por uma separação precoce e prolongada pode ativar o sistema de alerta da criança, liberando cortisol em excesso, o que pode impactar negativamente o desenvolvimento emocional e até cognitivo (Gunnar & Quevedo, 2007).


O desenvolvimento socioafetivo é um dos maiores benefícios que a escola pode oferecer. A interação com outras crianças ajuda na construção das primeiras habilidades sociais, como compartilhar, esperar a vez e expressar emoções. No entanto, bebês ainda estão em um estágio inicial de desenvolvimento emocional e precisam principalmente do vínculo seguro com seus cuidadores. Se a escola oferece um ambiente acolhedor, com profissionais preparados para atender as necessidades afetivas do bebê, pode ser um espaço que fortalece a segurança emocional. Porém, se a adaptação for brusca, com pouco suporte emocional, a criança pode se sentir insegura, o que pode afetar sua autoestima e até gerar dificuldades futuras em lidar com separações (Bowlby, 1988). Estudos mostram que crianças que passam muito tempo longe dos pais em idade precoce podem desenvolver ansiedade de separação e dificuldades de regulação emocional (Ahnert, Gunnar, Lamb, & Barthel, 2004). Por isso, a escolha da escola e a forma como a transição é feita são tão importantes.


Cada criança tem seu ritmo, formas diferentes de aprender e uma necessidade específica que é singular a ela. Antes de tomar essa decisão, é essencial avaliar alguns pontos. Se há uma cuidadora ou família disponível para oferecer um ambiente seguro e estimulante, talvez a escola possa esperar um pouco mais. O tempo de permanência também é um fator importante, pois longos períodos podem ser cansativos para o bebê, tornando uma adaptação gradual e horários reduzidos opções mais adequadas. Além disso, a proposta pedagógica da escola precisa ser avaliada com cuidado. Escolas que valorizam o desenvolvimento motor, o livre brincar, contato com natureza, manipulação com texturas e o vínculo afetivo tendem a proporcionar uma experiência mais positiva. A disponibilidade dos pais também deve ser considerada. Se a rotina permite momentos de qualidade com o bebê fora da escola, isso pode compensar o tempo longe durante o dia.


Por fim, a ida do bebê para a escola não é uma decisão simples e deve ser avaliada com carinho e consciência e deve ser respeitada a demanda ou falta de rede de apoio. Para algumas famílias, pode ser uma experiência enriquecedora, desde que o ambiente seja seguro, afetivo e respeite as necessidades do bebê. Para outras, o melhor pode ser adiar essa etapa, garantindo que a criança tenha tempo para desenvolver um vínculo seguro antes de enfrentar desafios sociais mais complexos. O mais importante é que, independentemente da escolha, a mãe se sinta segura em sua decisão, sem culpa. Afinal, o que realmente impacta o desenvolvimento do bebê não é apenas estar ou não na escola, mas sim a qualidade das relações e dos estímulos que são ofertados diariamente numa rotina previsível.


Referências:


Ahnert, L., Gunnar, M. R., Lamb, M. E., & Barthel, M. (2004). Transition to child care: Associations with infant-mother attachment, infant negative emotion, and cortisol elevations. Child Development, 75(3), 639-650.


Bowlby, J. (1988). A secure base: Parent-child attachment and healthy human development. Basic Books.


Gallahue, D. L., & Ozmun, J. C. (2013). Understanding motor development: Infants, children, adolescents, adults. McGraw-Hill Education.


Gunnar, M. R., & Quevedo, K. (2007). The neurobiology of stress and development. Annual Review of Psychology, 58, 145-173.


Shonkoff, J. P., & Phillips, D. A. (Eds.). (2000). From neurons to neighborhoods: The science of early childhood development. National Academy Press.



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